segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Pelo Cinqüenta Vinte

Pelo Cinqüenta Vinte


Minha dor tem farrapos de pele, carne e ossos de uma criança,
que não verá o Natal chegar,
que não mais retribuirá o carinho de sua mãe
que não brincará com meus filhos...

Minha dor tem nome
O nome de menino louro
que brincava pelas ruas de meu bairro
que teimava em correr atrás da bola
sem ter o futebol dos demais...

Chamem sua irmã...!

Calem meu desespero...!

Arranquem de meu peito essa dor
que a violência da morte de um menino
nos pode trazer...

Calem minha ira,
pois ela vem dos pneus do cinqüenta vinte,
do cascalho de minha rua
de terra nua
de minha vila descalça...

Minha dor tem pedaços de impotência

diante do grotesco da morte
de um menino de onze anos

eu nada pude fazer,
sequer me jogar sob os pneus móveis do cinqüenta vinte
para senão salvá-lo
conduzi-lo em sua nova jornada...

Chamem minha irmã...

Pensei na minha irmã,
na dor que lhe causaria
se eu houvesse ido pelos pneus do cinqüenta vinte!

Que as crianças de meu bairro, de minha cidade e do mundo possam brincar
sem bombas, sem balas e sem pneus, que espalham a dor e a morte!

Um comentário:

Unknown disse...

Tio Marcos, mais uma vez me impressionaste com seu lirismo: intenso, denso, chocante, perfeito!!!

A dor alheia nos faz aproximar...
adooreei!!