terça-feira, 30 de junho de 2009

Coragem

O sítio não era o que se pode chamar de grande, tinha uns dois alqueires, uma casa, um galinheiro, um chiqueiro pequeno e um depósito, quem chegava percebia logo pelo estado das terras que seu dono não vivia delas, somente ao redor da casa é que se percebia um esmerado cuidado, a hortinha, o jardim e o terreiro, tudo limpinho de dar gosto. Na casa viviam cinco pessoas, o pai, a mãe e três filhas; Iaiá, Dionísia e Maria do Amparo. O pai, conhecido por todos era o Augusto da Venda, e na venda ele trabalhava do nascer do sol ao escurecer, da venda ele tirava o sustento, e sua venda era a melhor da vila, a maior e a que mais vendia. A mãe, Dona Teté, quando não estava na venda ajudando seu marido, vivia a costurar, a vida no sítio corria por conta das meninas, sendo Iaiá a responsável pelo trabalho da casa e seu redor.
Naquele inverno de 89, as chuvas começaram um pouco mais tarde e mais fortes no sudoeste do Maranhão. No terceiro domingo de janeiro, porém na manhã daquele domingo, após a missa a casa de Augusto recebeu uma visita desconhecida e inesperada, enquanto ele e Maria do Amparo arrumavam a porteira foram abordados por um homem que assim lhes falou:
- Bom dia, posso falá com vocês?
- Sim, em que posso lhe ajudar conterrâneo? Era sempre assim que Augusto atendia as pessoas na venda, e mesmo na vida quando era abordado.
- Apois num é patrão, venho fugino da seca do Piauí, aqui e acolá pedino um prato de comida, trocano por uma diára, limpano uma juquira, consertano uma cerca, sabe patrão, meu nome é Abel, lá no Piauí, dexei a muié e os fís... quero ir pro lado do Pará arrumá trabaio, porém nesse instante, tenho mermo é muita fome...
- Pois num se apoquente, segure aqui essa porteira enquanto eu bato uns prego e depois você almoça conosco, Amparo, diga a sua mãe que hoje nós tem convidado.
Um ano depois desse diálogo encontramos Abel tocando o sítio de Augusto; pedira um prato de comida e foi ficando, pediu pra fazer uma roça e fez, pediu pra fazer um barraco e fez, Augusto estava contente, pois para ele encontrara alguém em quem acreditava poder confiar, o sítio já não era só a casa, a horta e o galinheiro, Abel havia botado roça, arrumado a cerca, limpado a cisterna, e apesar da preocupação de Teté, e do fato de Abel nem se preocupar com a mulher e os filhos no Piauí, o sujeito era trabalhador e de confiança, confiança incontestável. Em dezembro Iaiá fora pedida em casamento, em junho ela se casaria, Dionísia e Amparo, estavam a estudar e a menina Dionísia só falava em ir pra São Luis, Brasília ou São Paulo, logo só ficariam ele e Teté, Augusto já havia até resolvido comprar uma casa na vila, mais perto da venda e mais distante do sítio.Porém Abel, não merecia a confiança que Augusto nele depositara, a mulher e os filhos do Piauí nunca existiram, além da seca, do que Abel fugia mesmo era da polícia, Abel havia matado no Piauí e fugira, graças a distância e a falta de comunicação na vila, Abel vivia livre e tranqüilo, apesar de Dona Teté dele não gostar, aos poucos Abel fora se tornando “dono do sítio”, mas Abel longe de ter se regenerado, vivia espreitando as meninas durante o banho, e Dionísia, se sentia feliz quando percebia que estava sendo olhada pelo perigo. Dionísia era bonita, tinha uma cabeleira loira, um corpo perfeito, seios médios, cintura fina, quadris largos, porém, levada pela vaidade, talvez, talvez pela carência afetiva, ela não só gostava de ser vista pelo empregado do sítio, como lhe permitia que a tocasse e pedia para que ele a deixasse vê-lo a se masturbar, ou seja, Dionísia, alimentava o desejo doentio de Abel... Todavia, apesar desse relacionamento doentio com Dionísia, Abel se perdia mesmo era quando via Maria do Amparo, em seus doze anos de menina impúbere, em ações privadas, vê-la banhando, o fazia queimar-se em sonhos loucos, sonhos que ele acreditava um dia realizar. Em junho, Iaiá casou-se e foi morar na fazenda do noivo; em setembro, Dionísia, com 16 anos, fugiu de casa, só se soube muito depois que ela se tornara prostituta no Rio, meio que de desgosto, meio que de doença cardíaca Dona Teté morreu em dezembro e no sítio foram ficando Augusto, Abel e Amparo; ferido pela dor da perda da filha e da esposa, Augusto quase já não vinha ao sítio, dormia na venda, vinha apenas saber da filha, e a casa na vila que ele comprara, e que reformava quando a mulher morreu, estava como estava no dia da morte dela, com a reforma parada, sem teto, com as paredes nuas, morrendo de tristeza como seu dono. Maria do Amparo, crescia, a puberdade lhe dera seios, pelos e menstruação, a vida lhe dera a dor, que ela estampava no olhar e que lhe deixara mais bonita ainda do que a irmã fugida. O que fazia Abel imaginar impossíveis e insanas situações onde ele a possuía e se tornava seu senhor, mas a menina lhe era arredia, fugia dele, passava mais horas na venda com o pai do que no sítio, onde só dormia, depois que fechava com tranca todas as portas, as vezes chegava a tentar dizer ao pai do assédio de Abel, mas antes que falasse o pai lhe cortava a conversa e punha-se a elogiar o empregado.
Na véspera do aniversário de quatorze anos, Amparo disse ao pai as cinco e meia da tarde:
- Papai, amanhã completo anos, hoje vou levar uma farinha e um leite pra fazer um bolinho, pra nós dois tomarmos café, por favor papaizinho, durma lá em casa hoje. - Amparo, sei que lhe tenho sido um pai mei ausente, sei disso minha fia, hoje num vai dá para eu dormi lá, é que tenho uns compromissozinhos assumidos antes, porém prometo chegar lá antes do café e comê seu bolo, mas prometo ir e lhe levá um presente, uma supresa... A menina então se despediu, beijando-lhe a testa e se dirigiu para sua casa.
Augusto então correu na casa vizinha e chamou:
- Terto, ô Terto! Logo um homem de mais ou menos uns quarenta anos veio em sua direção... - Sim, Seu Augusto, que pressa e essa homem, que bicho lhe mordeu, diga logo? - Então Terto, vamos faze o negócio, ou não? - Mas Seu Augusto, minha casa num vale seu sítio e a construção... - Home... deixe de conversa, eu sei que num vale, ma é que eu quero me livrá do sítio e da construção, as duas coisas me traz muita angustia no peito, além disso Amparo, ta ficando moça, vive lá sozinha... sabe como é... a menina tá na oitava série, logo vai querer ir pra mais longe, o sítio... o sítio num tem importância... Vamo home, fecha o negócio que eu estou lhe ajudando...
- E o Abel? O que eu faço com o Abel, Seu Augusto?
- Ora rapaz, ele ainda num plantô, pago-lhe a limpa da juquira e lhe dou um dinheiro pra que ele volte lá pro Piauí, ele é problema meu...
- Intão tá seu Augusto, a gente faz negócio, mas oi home, é o sinhô que qué assim.
- Home deixe de bobagem e vamo lá na venda tomar tomar um vinhozim pra comemorar. Amanhã bem cedim vô cumê o bolo da Amparo e lhe dá essa notícia, sei que isso vai deixá ela muito contente...
As seis horas da tarde Maria do Amparo chegou ao sítio, quando abria a porta Abel veio ao seu encontro,falando:
- Menina, ispere, num feche a porta pro modi tenho coisa séria pra falá cum ocê...
Mesmo com medo a menina esperou. Quando o homem a alcançou segurou-lhe pelo braço, empurrou-lhe porta a dentro, com a outra mão tratou de rasgar-lhe a saia, a menina mordeu-lhe o braço, conseguiu escapar da primeira investida, quase alcançou a porta, porém, Abel foi mais rápido, novamente a segurou e deu-lhe um soco no rosto e menina desmaiou, então ele a levou até o quarto jogou-lhe em cima da cama amarrou-lhe os punhos e as pernas com as cordas de uma rede, retirou-lhe o restante da roupa e tocou-lhe por todo o corpo, quando a menina voltou a si ele a possuiu violentamente, e cada grito da vítima ele a esmurrava, a cada tentativa inútil dela, ele a agredia, quando terminou sua tresloucada ação Amparo tinha o rosto coberto de sangue os dois olhos fechados e inchados, então ele foi ao banheiro pegou um balde com água, um pano molhado e começou a limpá-la, quando estava a terminar a menina voltou a si novamente e começou a se debater; aquela ação da garota lhe encheu novamente de desejo e mais uma vez ele a possuiu, durante a posse, retirou a corda dos pulsos dela e colocou em volta do pescoço, no encerramento do ato a enforcou, saiu da casa e se dirigiu ao seu barraco, onde acendeu um cigarro, tinha o corpo suado e as vestes sujas de sangue, mas parecia que não percebera isso.
As sete horas da manhã Augusto chegou em casa, trazia nas mãos, pão e algumas flores, encontrou a porta da casa aberta e foi entrando...
- Amparo minha fia, vim cumê do bolo...
Da cozinha não veio nenhuma resposta, pra lá ele se dirigiu, na cozinha não havia ninguém e ele retornou a sala, não viu nenhum bolo, nenhum sinal de café, então ele se deparou na frente do quarto da filha a porta aberta e sobre a cama o corpo dela nu, com umas cordas amarradas nos pés, Augusto fechou os olhos, quando os abriu, viu de novo aquela cena que carregará enquanto viver, a filha morta enforcada, desfigurada, bateu-lhe um desespero, sabia que a menina morrera, que ela sofrera, de repente ele viu na mente o criminoso cometendo o crime, percebeu porque Teté não gostava de Abel, entrou em seu quarto pegou o revolver que guardava no armário e saiu, entrou no barraco de Abel uns três minutos depois, o empregado estava lá sentado, ainda sujo de sangue da sua vítima e Augusto lhe falou:
- Seu fí-duma-égua, você vai morrê... Apontou-lhe a arma para a cabeça e outro então lhe disse: -Mate... por modi que eu matei ela porque ela num mi queria, eu num matei só ela não, mate, porque senão eu vô li matá cabra! Augusto com a arma apontada para o criminoso tremeu, seus olhos se encheram de lágrimas e Augusto não atirou, Abel então foi se aproximando do já entregue Augusto, quando ouviu uma voz feminina a suas costas lhe dizer:
-Morra canalha!
Acordou num hospital algemado, sentiu uma dor nas costas e perguntou ao policial: - Ei moço, que to fazeno aqui? E o policial: - Cala tua boca pilantra, sua sorte é que a Dona Iaiá errou o lado da facada, botô a faca do seu lado esquerdo, porém você tem tanta sorte que o seu coração é do lado direito...
- E o pai dela... o pai dela?pergunta ao soldado - Esse, ainda hoje chora a fia mais nova, que você matou... Agora se cale . ele lhe responde
Durante o julgamento, quando perguntado pela promotoria porque não matou a Abel, Augusto trêmulo e com os olhos cheio d’água respondeu:
- Moço, me faltou coragem!

Liberdade Maranhense III

Libertamos o Maranhão empobrecido,
tantas vezes vilipendiado,
negociado e esquecido!

- Liberdade, ouçamos a voz do libertador...

Livre da dor o povo rirá,
mas quando e onde a liberdade,
livre estará?

Quem de nós bebe de seu licor?

Quem de nós é livre?

- Liberta-nos oh! Maranhão!

-Liberta-nos oh! Maranhão...

Liberta-nos de seus donos
e dos donos de seus mares,
não nos deixe, porém,
entregues a seus pares!

O povo livre precisa à liberdade viver...

Liberdade, liberdade abra as asas sobre nós!
Nós que não sabemos se somos livres
Ou se a liberdade queremos!

Que a voz da igualdade
soe um dia nesse estado emaranhado,
que é hoje o Maranhão!

Que a voz da liberdade
não se perca nos corredores leoninos,
que ecoe na voz do menino sem escola e destino
que liberte a menina a caminho dos velhos puteiros,
a menina desatinada, enganada,
que sonha com o estrangeiro!

- Liberdade...

Precisamos saber quem somos,
Tomar as correntes de nossos “donos”,
Sermos livres aqui!

Liberdade... liberdade...

Tira-nos grilhões,
dê-nos educação,
conscientização,
libertação,
pão... Paz!

Para uns tanto faz:
Eleição,
devastação,
desilusão...

Um dia faremos outro intento,
mais um pra libertar-te oh! Maranhão!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Intriga

Ao colocar a mão na maçaneta da porta da casa ele percebe que estava apenas encostada, despreocupadamente abriu e entrou, afinal de contas outras vezes a esquecera aberta, lá dentro se dirigiu a cozinha onde abriu a geladeira e retirou a panela com feijão, na prateleira pegou a frigideira , colocou sobre a outra boca de fogo, apanhou uns ovos. Assim levava sua vida a trabalhar na sua roça e a comer de chofre sem os cuidados de uma mulher desde que Helena se mudara para a cidade, com o intuito de cuidar de Sinvalzinho, pois em Tremembé dizia ela, estava mais perto do socorro médico e o menino tinha umas crises graves de bronquite. Médico era só o modo de ela dizer, na verdade o menino teria o socorro do enfermeiro Jair, o melhor amigo que ele tinha e um enfermeiro de mão cheia. Enquanto pensava o feijão esquentou, despejou duas conchas no prato fundo, jogou a farinha por cima mexeu o ovo para mistura-lo a cebola picada e jogou por cima feijão com farinha, abriu a geladeira pegou um vidro de pimenta, um copo e uma vasilha d’água sentou-se em frente ao prato e comeu aquela comida simples como se fosse um manjar, ao terminar pôs o prato na pia e se dirigiu a sala, lá chegando recostou-se em sua cadeira-de-balanço para fazer uma pequena e rotineira cesta quando percebeu sobre a mesa um envelope amarelo; o pegou em sua mãos, estava endereçado a ele, mas não havia remetente, abriu-o e retirou uma folha de caderno manuscrita, começou a lê-la:


“Tremembé-Ba; 14 de junho de 1989.

Caro Amigo:

Sei que o Senhor está construindo seu futuro, com o sonho de mais tarde poder dizê a seu filho o quanto fez por ele, por isso passa a semana nesse mato, só vindo a nossa amada Tremembé nos sábados e retornando nas segundas pela manhã, isso eu tenho visto e isso me faz admira-lo. Por essa razão é que mesmo sem querê é que lhe escrevo essa missiva.
Meu caro, sua esposa Helena, a quem o senhor tanto ama, mão merece o amor que lhe tem.
Seu amigo Jair enfermeiro, não merece a amizade que o senhor lhe nutre.
Por duas semanas, com essa que meia completará a terceira, que tenho notado que sua esposa abre aporta para seu amigo as 10 da noite, e ele só sai as seis da manhã, outra noite esqueceram a janela do quarto aberta e de onde estava pude vê o cabra a beijá dona Helena efusivamente enquanto tiravam as vestes, ai perceberam o erro e fecharam a janela, ouvi que sorriam.
O senhor chega no sábado as oito da manhã, se se deitasse perceberia que sua cama está quente. Ainda outro dia vi o senhor devolver o relógio que o safado esqueceu em sua casa na noite anterior, desculpa dada por sua mulher, foi que ele tinha ido socorrer o menino...
Caro amigo o senhor, sinto muito:

É UM CORNO!

Um Amigo!”

Ele leu a carta novamente, como se engolisse cada palavra daquele apócrifo, a sua vida passou na sua frente, tentou se levantar da cadeira, mas suas pernas não conseguiram firmar seu corpo, escorou a cabeça com os ombros... “Aquilo não podia ser verdade”. E gritou pra dentro:
- É verdade... sim era a mais pura verdade e ela estava na nossa história de vida... Uma lágrima vincou-lhe o rosto tentou segurar o pranto, mas não conseguiu, soluços fizeram o choro romper seus preconceitos, chorou por mais de vinte minutos em meio do choro ouviu uma voz vinda do exterior...
- Seu Sinval... ei home ta cunteceno alguma coisa por aí... Limpou o rosto engoliu o pranto, secou a garganta e respondeu: - Não Ernandes, num tem nada acontecendo não.
- Já tamo ino continuá a poda o sinhô vai mai nóis...
- Pode ir, chego mais tarde... pra ver o resultado, até mais!
- Certo seu Sinval intonce eu mais Noca já vamo.
Ouviu os passos descendo alameda, então percebeu o maldito bilhete em suas pernas borrado pelas lágrimas, releu-o e o pensamento voltou-se a 85, a casa de sua mãe, ouviu a voz de sua mãe:
- Sinval deixe essa menina em paz meu filho, é só uma menina desse maldito lugar, sem futuro e sem saber, além disso ela não gosta de você meu filho, só vai lhe fazer sofrer...
Sua mãe morreu sem concordar com o seu casamento, achando que Helena não era a mulher ideal, seu pensamento em profusão o leva a outra discussão com a a mãe.
- Mãe, eu vou me casar com Helena porque vou comprar ela.
- Se seu pai ainda vivesse não permitiria sequer que você falasse isso. Mulher não se compra e mulher que se vende não serve para ser esposa, só pra ser puta.
O velho Sinval Neves morrera em 83, vítima de um câncer no pulmão, chegara a Tremembé em 60, adquirira 50 hectares de terra a beira do Baiano e grilara 950 hectares, casara com Dona Inês Melo em Ubatã e com ela tivera apenas ele, um filho que nunca quis estudar mais do que o ginásio apesar dos desejo expresso do pai.
Quando o velho morreu já tinha 26 anos e pensava em se casar, sua mãe queria que ele fosse a Ubatã ou a Ipiaú buscar alguém mais preparada para tomar conta da casa, nunca foi. Mas ele, em 85 vira a menina-moça Helena, 13 anos num corpo sinuoso, numa pele morena, a lindeza da baianidade praieira e desejou aquela menina e contra todos os argumentos maternos comprou Helena por uma casa e uma venda de secos e molhados para o pai dela e a fez sua mulher.
Vê-se então no dia do casamento, recebendo Helena da mão de seu Raimundo, o sorriso mais brilhante que já vira em sua vida. Recorda-se amando Helena, a nudez celestial de Helena, seus seios, seu umbigo, seu sexo... o cheiro de Helena virgem lhe penetra o nariz de novo, ainda hoje quando a ama o cheiro dela dá-lhe um sabor de virgindade.
Seus pensamentos levam-lhe ao nascimento de seu filho, a felicidade de ver seu menino nascer, ali naquele instante com o amigo Jair a fazer o parto ninguém estava mais feliz que ele, (Sinval)
E Jair, Jair era um cara bonito e inteligente cresceram juntos, terminara o ginásio graças ao amigo, Jair fora embora estudar medicina, mas como não conseguira ser aprovado na UFBA, fizera um curso de enfermagem e devido aos pedidos de seu pai retornara, voltara casado com uma moça de Salvador que três meses depois o abandonara e também um menino, ela havia dito que não se acostumava a vida de rotina de Tremembé.
O seu pensamento fervilhante o leva ao filho asmático com dois anos, era uma bronquite alérgica, e ele soluça, mas segura o pranto se levanta as pernas já não tremem, vai até o quarto senta-se a cabeceira da cama, abre a gaveta do criado mudo e puxa um revolver trinta e oito, abre o tambor, descarrega a arma, pega o óleo vegetal e começa a lubrificá-la, ao terminar recarrega e a coloca sobre a cama, levanta-se vai ao guarda-roupa escolhe uma calça escura e uma camisa preta as deixa sobre a cama, tira a roupa, pega a toalha e sai do quarto, entra no banheiro e banha-se; a água cai-lhe pelo corpo ele demora-se quase uma hora banhando. Sai, veste as roupas calça o sapato e coloca o revolver na cintura, aquele revolver parecia ter o peso de uma tonelada para Sinval, mesmo assim, apruma o corpo fecha a janela, rapidamente chega a porta da casa sai e desta vez tranca a porta, tranca e confere, sobe na picap, liga o veículo e sai como fazia todos os dias quando ia a cidade.
A mulher de Ernandes ao ver que o patrão saia lhe faz sinais e grita: - Seu Sinval, Ei seu Sinval... O sinhô vai pra rua... responde apressado. – Vô não, vô até a venda de seu Tibério! – Oxe... o Sinhô nunca vai lá....- Deixe de cunversa que eu tô com pressa.
Acelerou o carro antes que mulher pudesse lhe dizer ou pedir alguma coisa. Em vão ela lhe chamou: - Seu Sinval... ei... nossa parece que vai salvá um doente... nessa pressa...
Meia hora depois estaciona o carro na frente da venda do Tibério e da porta fala:
- Quero um litro de uísque, daquele que meu pai bebia...
- Seu moço, tem mais não, seu tio bebeu o último a sumana passada...Respondeu o homem atrás do balcão
- Então me vê um litro de conhaque macieira...
- É pra já meu bom.
O litro veio acompanhado de um copo, que ele rejeitou e começou a beber pelo gargalo. – O moço tá cum sede... – Escuta Tibério quem desceu a bocana de minha fazenda hoje entre 10 e 11 horas? Perguntou após beber o primeiro trago e sem deixar o outro concluir sua frase. – Vi não home, nessa hora estava matando e tratando um porco pra nóis... Pro mode quê? – Por nada não. Falou e votou a beber. O dono da venda ainda tentou conversar com ele, mas Sinval passou a responder-lhe por monólogos, bebeu o litro de conhaque em menos de uma hora, bebeu e levantou-se ao lado do carro vomitou, voltou e pediu uma cerveja, aceitou um sarapatel que o vendeiro lhe ofereceu, bebeu sozinho mais uma quatro cervejas, pagou sem discutir o preço e saiu.
Guiava a picap bem devagar como se quisesse atrasar sua chegada a Tremembé, na última curva estacionou o carro, desceu e olhou o relógio era oito horas da noite, então tomou o caminho pedregulhoso e caminhou por mais de 1,5 quilômetros até a beira do rio Baiano, naquele ponto o rio ganhava uma queda d’água bonita e ele parou a sentou-se e ficou como se estivesse a contemplar, na penumbra daquela o que via era o lençol branco a descer e se perder na escuridão, sua mente voltava-se a Helena, aquela hora o que ela estava a fazer? Estava se banhar, a se perfumar e a aguardar pelo seu amante... toda a bebida que havia consumido no Tibério já não lhe fazia efeito, olhou o relógio, o tempo voara faltavam quinze para as 10.
Naquele instante, a casa amarela da Rua da Esperança, a maior casa dessa rua abria sua porta e sorrateiramente Jair entrava , entrava e beijava a boca da mulher que lhe abrira a porta. Sem conversas, abraçados se dirigiram ao quarto e se começaram a fazer amor sofregamente.
Sinval descia a rua com sua picap, rua silenciosa e vazia, poucas casas tinham janelas abertas, o carro ia devagar no ponto morto, o estacionou em frente a venda do sogro de sua casa, que aquele hora dormia, a uns 50 metros de sua casa, enfiou a mão no porta-luvas trouxe o revolver, abriu-lhe o tambor e conferiu a munição, desceu do carro e o colocou na cintura, silenciosamente caminhou até o portão de sua casa, observou que a luz da sala estava acesa, lembrou-se que ao abrir o portão rangeria e sem muitos ruídos saltou o muro. Do outro lado alguém escondido na penumbra da sombra de uma mangueira sorria observando seus gestos.
Na porta levou a chave e girou-a, sem ruídos a porta se abriu, caminhou até a porta de quarto, lá de dentro gemidos e gritinhos de prazer denunciavam que os amantes estavam se amando, olhou o relógio eram 10:10 puxou o revolver, abriu a porta devagar. Jair estava nu de costas para ele e sua mulher de quatro em cima de sua cama era segura pelos longos cabelos como ele, (Sinval), jamais fizera.
Encostou o revolver na cabeça do amigo e disparou, Helena pôs-se a gritar enquanto o peso do amante a prendia, então Sinval virou o revolver em sua direção e disparou duas vezes, um tiro a atingiu as costas na altura do peito esquerdo, o segundo a atingiu na face abaixo da orelha direita. Verificou se ambos estavam mortos, confirmando, caminhou até a porta do quarto posicionou o cano do revolver no lóbulo atrás de sua orelha direita e puxou o gatilho.
Pouco tempo depois a casa era invadida por vizinhos, no meio deles a pessoa que sorria sob a mangueira se satisfazia ao ver os três corpos estendidos no quarto.